A doação de um fêmur ou tíbia pode atender a quase 200 pacientes na fila de espera.
Apesar de o Brasil possuir o maior programa público de transplante de órgãos do mundo, o Sistema Nacional de Transplante, as filas de espera para a doação de órgãos e tecidos, incluindo córnea, ossos e pele, ainda é grande. Somente no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, atualmente quase 400 pacientes aguardam para realizar um transplante ortopédico.
No entanto, muitos desconhecem o fato de que os ossos maiores – fêmur e tíbia – proporcionam a realização da cirurgia em dez a 15 pacientes que necessitam do transplante ortopédico, e em quase 200 pessoas nos casos odontológicos. Para um país que tem uma das maiores populações edêntulas, isto é, sem dentes ou banguelas, a aplicação tem sido frequente naqueles que utilizaram prótese dentária durante anos, pois a falta do dente faz que com que o osso reabsorva, exigindo um implante.
Atualmente, o HC de São Paulo disponibiliza, em média, 200 transplantes dentários por mês para o território brasileiro. De acordo com Luiz Augusto Ubirajara Santos, cirurgião dentista e responsável pelo banco de tecido do Instituto de Ortopedia do Hospital, a odontologia avançou muito com os transplantes de ossos, principalmente no que se refere às cartilagens. “Ficou muito mais fácil habilitar uma mandíbula, por exemplo.”
Nos casos ortopédicos, as perdas ósseas no quadril são as mais comuns, mas pessoas que usaram próteses, portadores de tumores ósseos ou que tiveram cicatrizações erradas do osso, isto é, uma fratura que não se consolidou da forma esperada, ou ainda pacientes decorrentes de doenças metabólicas, também estão suscetíveis ao transplante.
Como funciona a doação
A obrigação de declarar-se doador era baseada em uma lei que determinava a todo cidadão assumir ou não no RG a sua opção. Hoje, a atitude é livre e espontânea, o que, na maioria das vezes, restringe a doação até por desconhecimento do processo, pois quem formaliza é a família após o falecimento do indivíduo. O procedimento inicia-se após a constatação da morte encefálica, que deve ser notificada. Com o diagnóstico feito, começa a logística de distribuição. Os bancos de ossos estão atrelados a algum serviço onde existem as centrais de transplantes espalhadas pelo país. No caso de transplante de ossos, não existe lista única, ao contrário do de coração, em que o risco de morrer é iminente.
Por este motivo, a seleção para doação de tecidos é mais detalhista do que a de transplante de órgãos, pois “dá tempo de selecionar melhor e preparar o osso para o transplante, e o melhor: com isso, a rejeição é zero” – explica Luiz Augusto. Ele conta que, antes ainda de preparar o osso, é analisado o perfil do doador e, em média, de cada cem doadores, 80 são descartados porque acabam surgindo históricos como infecção, transfusão de sangue, ou idade avançada.
Depois da criteriosa avaliação, os ossos recebem um tratamento especial antes de serem transplantados. É feita uma irradiação para eliminar as substâncias contidas nos ossos e as células que poderiam causar alguma reação imunológica são removidas, e os ossos congelados a 80 graus negativos. Vários exames são realizados também para detectar a existência de bactérias, fungos ou células diferentes que podem se transformar em tumor.
Apesar de todo o cuidado, ainda há muito preconceito em relação ao transplante. Muitos acham que o ato pode ocasionar deformações, no entanto, um osso se molda a qualquer outra parte do corpo e, além de permitir que uma pessoa volte a andar, pode até evitar a amputação de membros. Qualquer indivíduo que apresentar uma perda óssea pode receber um transplante para a reconstrução.
Números
Segundo o Registro Brasileiro de Transplante, da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, em 2011 foram realizados quase 18 mil transplantes de ossos no país, sendo a maioria de caráter odontológico e os demais ortopédicos. Para aumentar este número, o cirurgião dentista Luiz Augusto destaca a importância das campanhas em prol da doação de ossos, já que a modalidade ainda é pouco conhecida.
* Publicado originalmente no site Saúde em Pauta.
Apesar de o Brasil possuir o maior programa público de transplante de órgãos do mundo, o Sistema Nacional de Transplante, as filas de espera para a doação de órgãos e tecidos, incluindo córnea, ossos e pele, ainda é grande. Somente no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, atualmente quase 400 pacientes aguardam para realizar um transplante ortopédico.
No entanto, muitos desconhecem o fato de que os ossos maiores – fêmur e tíbia – proporcionam a realização da cirurgia em dez a 15 pacientes que necessitam do transplante ortopédico, e em quase 200 pessoas nos casos odontológicos. Para um país que tem uma das maiores populações edêntulas, isto é, sem dentes ou banguelas, a aplicação tem sido frequente naqueles que utilizaram prótese dentária durante anos, pois a falta do dente faz que com que o osso reabsorva, exigindo um implante.
Atualmente, o HC de São Paulo disponibiliza, em média, 200 transplantes dentários por mês para o território brasileiro. De acordo com Luiz Augusto Ubirajara Santos, cirurgião dentista e responsável pelo banco de tecido do Instituto de Ortopedia do Hospital, a odontologia avançou muito com os transplantes de ossos, principalmente no que se refere às cartilagens. “Ficou muito mais fácil habilitar uma mandíbula, por exemplo.”
Nos casos ortopédicos, as perdas ósseas no quadril são as mais comuns, mas pessoas que usaram próteses, portadores de tumores ósseos ou que tiveram cicatrizações erradas do osso, isto é, uma fratura que não se consolidou da forma esperada, ou ainda pacientes decorrentes de doenças metabólicas, também estão suscetíveis ao transplante.
Como funciona a doação
A obrigação de declarar-se doador era baseada em uma lei que determinava a todo cidadão assumir ou não no RG a sua opção. Hoje, a atitude é livre e espontânea, o que, na maioria das vezes, restringe a doação até por desconhecimento do processo, pois quem formaliza é a família após o falecimento do indivíduo. O procedimento inicia-se após a constatação da morte encefálica, que deve ser notificada. Com o diagnóstico feito, começa a logística de distribuição. Os bancos de ossos estão atrelados a algum serviço onde existem as centrais de transplantes espalhadas pelo país. No caso de transplante de ossos, não existe lista única, ao contrário do de coração, em que o risco de morrer é iminente.
Por este motivo, a seleção para doação de tecidos é mais detalhista do que a de transplante de órgãos, pois “dá tempo de selecionar melhor e preparar o osso para o transplante, e o melhor: com isso, a rejeição é zero” – explica Luiz Augusto. Ele conta que, antes ainda de preparar o osso, é analisado o perfil do doador e, em média, de cada cem doadores, 80 são descartados porque acabam surgindo históricos como infecção, transfusão de sangue, ou idade avançada.
Depois da criteriosa avaliação, os ossos recebem um tratamento especial antes de serem transplantados. É feita uma irradiação para eliminar as substâncias contidas nos ossos e as células que poderiam causar alguma reação imunológica são removidas, e os ossos congelados a 80 graus negativos. Vários exames são realizados também para detectar a existência de bactérias, fungos ou células diferentes que podem se transformar em tumor.
Apesar de todo o cuidado, ainda há muito preconceito em relação ao transplante. Muitos acham que o ato pode ocasionar deformações, no entanto, um osso se molda a qualquer outra parte do corpo e, além de permitir que uma pessoa volte a andar, pode até evitar a amputação de membros. Qualquer indivíduo que apresentar uma perda óssea pode receber um transplante para a reconstrução.
Números
Segundo o Registro Brasileiro de Transplante, da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, em 2011 foram realizados quase 18 mil transplantes de ossos no país, sendo a maioria de caráter odontológico e os demais ortopédicos. Para aumentar este número, o cirurgião dentista Luiz Augusto destaca a importância das campanhas em prol da doação de ossos, já que a modalidade ainda é pouco conhecida.
* Publicado originalmente no site Saúde em Pauta.
Fonte: Leonardo Araújo
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