A lei brasileira garante: toda mulher tem direito a 120 dias de licença-maternidade, prazo que pode ser estendido por mais 60 dias dependendo do empregador. Mas, este tempo é o ideal? Embora o benefício seja reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde 1921, o período de afastamento varia de país para país. E a discrepância é grande: enquanto no Bahrein, a mulher tem direito a ficar 45 dias em casa, na Dinamarca, ela pode passar até 52 semanas (um ano e um mês) sem trabalhar.
Pesquisadores já demonstraram que os curtos períodos de convívio entre mães e seus bebês provocam atraso no desenvolvimento, doenças e até mesmo a morte dos pequenos. Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, examinou os resultados da escalada de licenças-remuneradas em 16 países europeus de 1969 até 1994: em média, o tempo passou de dez para 26 semanas. Segundo o economista Christopher Ruhm, autor do estudo, foi constatado que um incremento de dez semanas nas licenças-remuneradas pode reduzir as taxas de mortalidade infantil entre 2,5% e 3,4%. Algumas evidências apontam, no entanto, que as ausências muito longas do trabalho causam uma desvantagem econômica e profissional para as mulheres, e na melhor das hipóteses, um efeito neutro sobre as crianças.
Segundo o obstetra da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, Antônio Braga, a falta da mãe influencia na saúde da criança, notadamente pela interrupção do aleitamento materno: “a amamentação regular e exclusiva até os seis meses reduz 17 vezes as chances de o recém-nascido contrair pneumonia, cinco vezes a possibilidade de anemia e duas vezes a ameaça de crises de diarreia”.
Braga ressalta também a importância do aleitamento materno na formação do aparelho psíquico. De acordo com o especialista, os seis primeiros meses de vida são fundamentais para que o vínculo entre mãe e filho seja aprofundado e as atividades familiares estejam reorganizadas e adaptadas à chegada do bebê: “pode parecer utópico, retrógrado e até machista, mas os filhos que gozaram da presença da mãe por mais tempo na infância precoce tendem a desenvolver habilidades afetivas melhor consolidadas”.
A legislação brasileira recomenda ainda que a gestante se afaste do trabalho a partir da 36ª semana de gravidez, o que, segundo Braga, quase nunca é respeitado pelas pacientes, que preferem postergar a licença para o pós-parto para terem mais tempo com o bebê. Ele reconhece, no entanto, que a pressão do mercado pode fazer com que a mulher acabe interrompendo o aleitamento exclusivo por compromissos profissionais: “a lei confere às mulheres dois intervalos de 30 minutos por dia para amamentar, mas não obriga as empresas a fornecer creche. A mãe pode retirar o leite antes de ir para o trabalho, mas será que o responsável por dar o alimento ao bebê não vai preferir fornecer suplemento lácteo, que sacia a fome mais rapidamente e por mais tempo? Uma vez introduzidos esses alimentos, vai ainda o recém-nascido aceitar o leite materno com a mesma facilidade? Diante de tantos empecilhos, de foro legal e logístico, o que infelizmente vemos é a interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo”.
O retorno ao trabalho também costuma ser uma mistura de sensações para as mulheres: um alívio por poder conviver com mais pessoas e por voltar a ter atividades fora do lar, e um sentimento de culpa por estar longe da criança. A coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas da ESPM, Adriana Gomes, acredita que as mulheres que adiam a maternidade, privilegiando uma estabilidade financeira e emocional, acabam ficando menos ansiosas para retomar seu posto do que as mais jovens. “O trabalho também é uma questão de cultura, de valores da sociedade. Antes de pensarmos nas diferenças entre os países no que diz respeito ao tempo de licença, devemos observar de que maneira determinada sociedade valoriza a maternidade e o trabalho.”
Adriana sugere que, como forma de adaptação à volta ao emprego, as empresas passem a pensar na flexibilidade de horários, como alguns dias de trabalho em home office para cargos que possibilitem este tipo de benefício. “O relacionamento com o filho é construído o tempo todo. Passada a licença, a mulher não precisa estar 24 horas por dia ao lado da criança. Até porque ela não só gosta como precisa do trabalho para sustentar ou complementar a renda da família”.
Assim como Adriana, Braga também sugere que a mulher crie oportunidades de convivência produtiva, valendo-se do princípio da qualidade em vez da quantidade. “Ao passar o dia todo fora de casa, a mãe deve reservar um tempo exclusivo para ficar com seu filho. Este período, mesmo que curto, deve ser respeitado pois contribui para diminuir a sensação de ausência que o filho sente da mãe, assim como dilui o sentimento de culpa da mulher por sua ausência.”
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.
Pesquisadores já demonstraram que os curtos períodos de convívio entre mães e seus bebês provocam atraso no desenvolvimento, doenças e até mesmo a morte dos pequenos. Um estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, examinou os resultados da escalada de licenças-remuneradas em 16 países europeus de 1969 até 1994: em média, o tempo passou de dez para 26 semanas. Segundo o economista Christopher Ruhm, autor do estudo, foi constatado que um incremento de dez semanas nas licenças-remuneradas pode reduzir as taxas de mortalidade infantil entre 2,5% e 3,4%. Algumas evidências apontam, no entanto, que as ausências muito longas do trabalho causam uma desvantagem econômica e profissional para as mulheres, e na melhor das hipóteses, um efeito neutro sobre as crianças.
Segundo o obstetra da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, Antônio Braga, a falta da mãe influencia na saúde da criança, notadamente pela interrupção do aleitamento materno: “a amamentação regular e exclusiva até os seis meses reduz 17 vezes as chances de o recém-nascido contrair pneumonia, cinco vezes a possibilidade de anemia e duas vezes a ameaça de crises de diarreia”.
Braga ressalta também a importância do aleitamento materno na formação do aparelho psíquico. De acordo com o especialista, os seis primeiros meses de vida são fundamentais para que o vínculo entre mãe e filho seja aprofundado e as atividades familiares estejam reorganizadas e adaptadas à chegada do bebê: “pode parecer utópico, retrógrado e até machista, mas os filhos que gozaram da presença da mãe por mais tempo na infância precoce tendem a desenvolver habilidades afetivas melhor consolidadas”.
A legislação brasileira recomenda ainda que a gestante se afaste do trabalho a partir da 36ª semana de gravidez, o que, segundo Braga, quase nunca é respeitado pelas pacientes, que preferem postergar a licença para o pós-parto para terem mais tempo com o bebê. Ele reconhece, no entanto, que a pressão do mercado pode fazer com que a mulher acabe interrompendo o aleitamento exclusivo por compromissos profissionais: “a lei confere às mulheres dois intervalos de 30 minutos por dia para amamentar, mas não obriga as empresas a fornecer creche. A mãe pode retirar o leite antes de ir para o trabalho, mas será que o responsável por dar o alimento ao bebê não vai preferir fornecer suplemento lácteo, que sacia a fome mais rapidamente e por mais tempo? Uma vez introduzidos esses alimentos, vai ainda o recém-nascido aceitar o leite materno com a mesma facilidade? Diante de tantos empecilhos, de foro legal e logístico, o que infelizmente vemos é a interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo”.
O retorno ao trabalho também costuma ser uma mistura de sensações para as mulheres: um alívio por poder conviver com mais pessoas e por voltar a ter atividades fora do lar, e um sentimento de culpa por estar longe da criança. A coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas da ESPM, Adriana Gomes, acredita que as mulheres que adiam a maternidade, privilegiando uma estabilidade financeira e emocional, acabam ficando menos ansiosas para retomar seu posto do que as mais jovens. “O trabalho também é uma questão de cultura, de valores da sociedade. Antes de pensarmos nas diferenças entre os países no que diz respeito ao tempo de licença, devemos observar de que maneira determinada sociedade valoriza a maternidade e o trabalho.”
Adriana sugere que, como forma de adaptação à volta ao emprego, as empresas passem a pensar na flexibilidade de horários, como alguns dias de trabalho em home office para cargos que possibilitem este tipo de benefício. “O relacionamento com o filho é construído o tempo todo. Passada a licença, a mulher não precisa estar 24 horas por dia ao lado da criança. Até porque ela não só gosta como precisa do trabalho para sustentar ou complementar a renda da família”.
Assim como Adriana, Braga também sugere que a mulher crie oportunidades de convivência produtiva, valendo-se do princípio da qualidade em vez da quantidade. “Ao passar o dia todo fora de casa, a mãe deve reservar um tempo exclusivo para ficar com seu filho. Este período, mesmo que curto, deve ser respeitado pois contribui para diminuir a sensação de ausência que o filho sente da mãe, assim como dilui o sentimento de culpa da mulher por sua ausência.”
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.
Postado por: Leonardo Araújo
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