segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Redução do sal é tão importante quanto remédio de pressão

Dia 25 de novembro, como já mencionei aqui no Doutor Leonardo, o governo brasileiro divulgou um acordo com a indústria para a redução do teor de sódio (e de glicose) dos produtos alimentícios. A redução deverá ser gradual, para as pessoas não estranharem, e em 2020 os alimentos industrializados do Brasil deverão ter 50% menos sódio que hoje em dia. Esse acordo deverá ter um benefício imenso para a nossa saúde. Não se trata apenas de abaixar a pressão arterial. Trata-se de salvar vidas — muitas vidas.

Neste ano o New England Journal of Medicine publicou um estudo em que os pesquisadores simularam o que aconteceria nos Estados Unidos se aquele país tivesse uma iniciativa igual à do Brasil. Confira um trecho do resumo:

Uma intervenção regulatória desenvolvida para alcançar uma redução da ingestão de sal em 3 gramas por dia salvaria, todo ano, 194 a 392 mil anos de vida ajustados por qualidade de vida, e economizaria todo ano 10 a 24 bilhões de dólares em atenção à saúde. Tal intervenção traria mais economia do que custo, mesmo se apenas uma modesta redução de 1 grama por dia fosse atingida gradualmente entre 2010 e 2019, e seria mais custo-efetiva que usar medicamentos para baixar a pressão sanguínea em todos os hipertensos.


Quanto menos sal, menor o risco de infarto e de derrame. O limite de 5 gramas mencionado no artigo “Como prevenir e controlar a hipertensão arterial” é apenas um consenso sobre uma meta factível, mas consumir 3 gramas por dia seria ainda melhor. Mesmo assim, o brasileiro consome mais de 11 gramas de sal de cozinha por dia, muito acima do ideal, e bem próximo do que se consome nos Estados Unidos.

A Organização Mundial da Saúde estima que um país gasta cerca de 1 dólar por habitante por ano para implementar um conjunto de regras que diminua pela metade o consumo de sal pela população. Uma redução gradual sairia mais cara, pela necessidade de ajustes anuais. Dessa forma, o estudo mencionado acima estima que os Estados Unidos gastariam quase 3 bilhões de dólares para implementar a estratégia, mas economizariam algo entre 21 e 36 dólares para cada dólar gasto. Pessoalmente, não conheço qualquer aplicação financeira com tamanho retorno sobre o investimento.

Mas dinheiro não é tudo, certo? O estudo prossegue comparando o impacto da redução do consumo de sal com algumas outras medidas cuja importância é amplamente reconhecida:

Controlar com medicamentos a pressão arterial de todas as pessoas, inclusive as que nem sabem que têm hipertensão — preveniria 80 mil mortes por ano.
Diminuir em 5% o peso em todos os obesos — preveniria 36 mil mortes por ano.
Reduzir em 50% o tabagismo ativo e passivo — preveniria 84 mil mortes por ano.
Reduzir o consumo de sal em 3 gramas por dia — preveniria 51 a 81 mil mortes por ano.
O tratamento medicamentoso da hipertensão arterial é uma das formas mais efetivas de se reduzir a mortalidade. Mas uma redução em cerca de 25% do consumo de sal é tão efetiva quanto, e com um custo muito menor. Enquanto a redução progressiva do consumo de sal sairia por menos de 3 bilhões de dólares aos cofres norte-americanos, o uso de anti-hipertensivos em todos os casos com indicação custaria nada menos que 19 bilhões de dólares.

Acho que agora fica fácil entender minha empolgação com o acordo estabelecido pelo governo brasileiro. Mas você não precisa ficar de braços cruzados esperando a indústria diminuir o sal em seus produtos. Daqui a cerca de uma semana comento uma pesquisa da USP sobre a participação de cada fonte para o consumo de sal no Brasil.
Postado por: Leonardo Araújo

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