O sofrimento proveniente de qualquer dor, que repercute em todas as dimensões da pessoa (física, emocional, intelectual, social, valórica e espiritual), produz um complexo mundo de reações, sentimentos e obstáculos que é preciso saber aceitar, integrar, confrontar empaticamente e elaborar de forma sadia.
Toda dor é fruto de um amor/apego ferido que pode transtornar nossa cotidianidade, derrubar nossas concepções, deixar-nos inertes diante de tanto sofrimento, faz duvidar da fé, altera a alegria de viver, obscurece o futuro, apega ao passado e derruba projetos de vida.
Desilusões e insatisfações, desmotivações e falta de vontade, medos e angústias que bloqueiam, ressentimentos e broncas, crises compulsivas e imaturidade afetiva, retorno ao passado e acusações contínuas, comparações constantes com os outros e invejas, frequentemente são arestas de dor não bem elaboradas que configuram nosso carácter e personalidade.
Sanar nossas feridas abertas é elaborar positivamente as dores.
A felicidade e a paz interior fogem de nós quando o sofrimento se aloja em "nossa casa". Então, há que ir ao nosso curador ferido para sanar os centros danificados de nossa humanidade, uma tarefa pessoal e intransferível que, no entanto, é muito comunitária, pois, além de reativar os próprios e genuínos recursos, tem que aproveitar toda ajuda próxima e a força restauradora da fé.
O que fazer quando parece existir marcas indeléveis e insuperáveis de feridas do passado? Como atuar quando surge a convicção de que a vontade não pode processar a tempestade de sentimentos de desmotivação, culpa, bronca...? Como proceder quando ante dores de grande intensidade se crer que, encravado o sentimento, nunca irá florescer a serenidade e a felicidade?
Como aplacar a hemorragia de um sofrimento infinito que desmotiva e sem sentido existencial? Tem sentido seguir acreditando em Deus e na vida quando morre um ente querido e parece que a terra está desabitada? Como curar a ferida nessa situação limite produzida pela comoção existencial de morte de um filho, ameaça básica à paternidade/maternidade?
Elaborar de modo saudável as dores é um grande desafio.
É o único caminho para viver bem, não apenas sobreviver; para não cair prisioneiro do próprio sofrimento.
Acompanhar ativa e eficazmente no processo de dor com uma adequada relação de ajuda é uma sabedoria e uma arte; expressão sublime da solidariedade humana e da compaixão; testemunho de uma fé madura e de pleno sentido de comunhão eclesial.
Não podemos esquecer que quem está com dor necessita de luz, calor, alívio, escutar, acompanhamento, sentido e fé.
A relação de ajuda no processo de dor não é apenas campo das terapias psicológicas. Ela é também um assunto chave da evangelhização da igreja que constantemente tem que anunciar a ressurerreição de Cristo e a ressurreição em Cristo.
A fé não elimina o sofrimento, mas ao iluminá-lo o transforma. Por isso deve potenciar a pastoral da dor.
Pe. Mateo Bautista
Religioso Camiliano Missionário na Bolívia
Fonte: ICAPS
Postado por: Leonardo Araújo
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