10 de setembro de 2010
por Leonardo Fontenelle
Convenhamos, se a pessoa não toma o medicamento, fica difícil dele fazer efeito. Mas na vida real é isso mesmo que muitas pessoas fazem: elas não usam a medicação como ela foi prescrita. Eu costumo anotar detalhadamente no prontuário os medicamentos prescritos, mas mesmo assim faço questão de perguntar no retorno como a pessoa está tomando aqueles medicamentos. Não adianta, por exemplo, acrescentar um comprimido de metformina para otimizar o tratamento do diabetes mellitus se a pessoa não está usando nem a dose que já foi prescrita.
O problema da não adesão ao tratamento é um velho conhecido dos médicos, mas o Journal of General Internal Medicine trouxe uma informação realmente nova: 22% das prescrições nem chegam às farmácias.
De acordo com o doutor Michael Fischer, autor principal do estudo e professor assistente da Escola de Medicina de Harvard, os fatores que mais contribuem para a não adesão ao tratamento são o preço dos medicamentos, a comunicação entre médico e paciente, e o trabalho necessário para adquirir o medicamento.
No caso dos pacientes do plano de saúde Kaiser Permanente (dos EUA), por exemplo, apenas 5% dos pacientes deixaram de comprar os medicamentos. Existia um desconto para quem comprasse na farmácia do plano de saúde, mas o mais importante teria sido a facilidade do processo: os pacientes podiam comprar os medicamentos no mesmo lugar em que eram atendidos. (Mais informações: artigo científico, comentário no New York Times, e comentário no KevinMD.com.)
Nesse aspecto (entre outros), as unidades básicas de saúde do SUS se parecem com os ambulatórios do Kaiser Permanente, que alguns consideram o melhor plano de saúde do mundo. Quando eu atendo um paciente, ele consegue obter todos os medicamentos antes de chegar à rua. E o melhor, sem tirar um centavo sequer do bolso. (É claro que não é de graça; o medicamento é pago com o dinheiro dos impostos. Mas quanto mais a pessoa precisa de medicamentos, menos ela pode pagar por eles.)
Outro achado interessante da pesquisa é que as prescrições tinham um risco menor de serem deixadas de lado caso tivessem sido prescritas por um médico de atenção primária à saúde (médico de família, pediatra ou clínico geral). Esses profissionais têm melhores habilidades de comunicação com os pacientes, e o vínculo entre os médicos e os pacientes é um motivo a mais para os pacientes acreditarem (com razão) que os medicamentos são realmente importantes.
Aproveito para chamar o doutor Andre Bressan (do Blog do Pediatra em Casa) para a conversa. No estudo do doutor Fischer, as prescrições feitas para pacientes com menos de 18 anos de idade tinham uma maior probabilidade de chegar à farmácia. Eu tenho cá minha teoria, mas estou interessado em saber: por que você acha que isso acontece?
por Leonardo Fontenelle
Convenhamos, se a pessoa não toma o medicamento, fica difícil dele fazer efeito. Mas na vida real é isso mesmo que muitas pessoas fazem: elas não usam a medicação como ela foi prescrita. Eu costumo anotar detalhadamente no prontuário os medicamentos prescritos, mas mesmo assim faço questão de perguntar no retorno como a pessoa está tomando aqueles medicamentos. Não adianta, por exemplo, acrescentar um comprimido de metformina para otimizar o tratamento do diabetes mellitus se a pessoa não está usando nem a dose que já foi prescrita.
O problema da não adesão ao tratamento é um velho conhecido dos médicos, mas o Journal of General Internal Medicine trouxe uma informação realmente nova: 22% das prescrições nem chegam às farmácias.
De acordo com o doutor Michael Fischer, autor principal do estudo e professor assistente da Escola de Medicina de Harvard, os fatores que mais contribuem para a não adesão ao tratamento são o preço dos medicamentos, a comunicação entre médico e paciente, e o trabalho necessário para adquirir o medicamento.
No caso dos pacientes do plano de saúde Kaiser Permanente (dos EUA), por exemplo, apenas 5% dos pacientes deixaram de comprar os medicamentos. Existia um desconto para quem comprasse na farmácia do plano de saúde, mas o mais importante teria sido a facilidade do processo: os pacientes podiam comprar os medicamentos no mesmo lugar em que eram atendidos. (Mais informações: artigo científico, comentário no New York Times, e comentário no KevinMD.com.)
Nesse aspecto (entre outros), as unidades básicas de saúde do SUS se parecem com os ambulatórios do Kaiser Permanente, que alguns consideram o melhor plano de saúde do mundo. Quando eu atendo um paciente, ele consegue obter todos os medicamentos antes de chegar à rua. E o melhor, sem tirar um centavo sequer do bolso. (É claro que não é de graça; o medicamento é pago com o dinheiro dos impostos. Mas quanto mais a pessoa precisa de medicamentos, menos ela pode pagar por eles.)
Outro achado interessante da pesquisa é que as prescrições tinham um risco menor de serem deixadas de lado caso tivessem sido prescritas por um médico de atenção primária à saúde (médico de família, pediatra ou clínico geral). Esses profissionais têm melhores habilidades de comunicação com os pacientes, e o vínculo entre os médicos e os pacientes é um motivo a mais para os pacientes acreditarem (com razão) que os medicamentos são realmente importantes.
Aproveito para chamar o doutor Andre Bressan (do Blog do Pediatra em Casa) para a conversa. No estudo do doutor Fischer, as prescrições feitas para pacientes com menos de 18 anos de idade tinham uma maior probabilidade de chegar à farmácia. Eu tenho cá minha teoria, mas estou interessado em saber: por que você acha que isso acontece?
Fonte: http://leonardof.med.br/
Postado por: Leonardo Araújo
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