sábado, 21 de janeiro de 2012

Chicletes e adesivos de nicotina são ineficazes no combate ao tabagismo

Os chicletes e adesivos de nicotina que milhões de fumantes usam para ajudar a combater o vício não têm nenhum benefício duradouro e, em alguns casos, o tiro ainda pode sair pela culatra. As informações são do mais rigoroso estudo de longo prazo já realizado sobre a terapia de reposição de nicotina.
Em estudos médicos, os produtos têm se revelado eficazes, tornando mais fácil para as pessoas parar de fumar, pelo menos a curto prazo. Os resultados mais animadores foram a base para as diretrizes federais em vários países recomendarem os produtos para auxiliar no abandono do tabagismo.
Mas, nas pesquisas recentes, os fumantes que usaram os produtos sem receita, como parte de um programa ou por conta própria, relataram pouco benefício. O novo estudo acompanhou um grupo de fumantes para ver se os produtos de reposição de nicotina afetam suas chances de largar o hábito ao logo do tempo. Não. Mesmo quando eles recebem aconselhamento sobre a reposição de nicotina.
O estudo, publicado segunda-feira, 9, no jornal especializado Tobacco Control, incluiu cerca de 800 pessoas que estão tentando parar de fumar durante um período de vários anos. É provável que esta pesquisa inflame um longo debate sobre o valor das alternativas da nicotina.
O negócio lucrativo dos chicletes e adesivos
O mercado dos produtos de reposição de nicotina decolou nos últimos anos, faturando U$ 800 milhões em 2007, contra U$ 129 milhões em 1991. Em 1997, os produtos foram aprovados para serem vendidos sem receitas em muitos estados norte-americanos, e planos de saúde no país cobrem pelo menos um deles.
“Estávamos esperando um resultado diferente”, disse o coautor do estudo e diretor do Centro Global de Controle do Tabagismo de Harvard, Dr. Gregory Connolly. “Investimos nesse programa de tratamentos por anos”, disse.
Médicos que tratam fumantes disseram que as conclusões do estudo não foram inesperadas, dada a forma ocasional como muitos fumantes usam os produtos. “A adesão do paciente é uma questão muito importante”, disse o Dr. Richard Hurt, diretor do Centro de Dependência da Nicotina da Clínica Mayo, que não esteve envolvido no estudo.
Hurt afirmou que os produtos de nicotina, como chicletes e adesivos, são “absolutamente essenciais, mas que suas combinações e doses para o tratamento adequado são necessidades individuais de cada paciente”.
Os produtos têm sido controversos desde 2002, quando pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, informaram, a partir de uma ampla pesquisa, que eles não pareciam oferecer nenhum benefício. O estudo não acompanhou as pessoas por um longo tempo. Um programa realizado pelo governo, que incluiu a reposição de nicotina como parte de diretrizes federais causou polêmica, porque membros do governo responsáveis pelo programa teriam recebido dinheiro dos fabricantes dos produtos.
“Alguns estudos questionaram estes tratamentos, mas a maior parte deles endossou o seu uso”, disse o diretor da Universidade de Wisconsin, do Centro de Pesquisa e Intervenção do Tabaco, Dr. Michael Fiore. O médico também é o presidente do programa que estabeleceu as diretrizes federais e que foram acusados de receber pagamentos dos fabricantes de medicamentos. “Há milhões de fumantes desesperados para parar por aí e seria uma tragédia se eles se sentissem enganados por causa de um estudo que estabelece que o tratamento é ineficaz”, afirmou.
Em um estudo antigo, realizado em Massachusetts, pesquisadores acompanharam uma amostra representativa de 1.916 adultos, incluindo 787 pessoas que disseram que tinham parado de fumar recentemente. Eles entrevistaram cada participante três vezes, uma vez a cada dois anos durante a década de 2000, pedindo para os fumantes e ex-fumantes falarem sobre o uso da goma de mascar, adesivos e outros produtos, durante seus períodos sem fumar e suas recaídas. Segundo o estudo, cerca de um terço das pessoas que tentaram parar de fumar tiveram uma recaída.O uso de produtos de substituição não fez diferença, usados pelo período de dois meses como o recomendado, ou com a orientação de um psicólogo.
Em um subgrupo de fumantes pesados – definidos como aqueles que fumam seu primeiro cigarro dentro de meia hora depois de acordar – que usaram os produtos de substituição sem orientação, a propensão à recaída foi duas vezes maior em fumantes pesados que não usaram os produtos.
Os pesquisadores afirmam que, embora os produtos de reposição de nicotina ajudem as pessoas a parar de fumar, eles não são suficientes para prevenir recaídas a longo prazo. A motivação dos pacientes é muito importante, assim como os seus ambientes sociais, apoio dos amigos e familiares e regras estabelecidas em local de trabalho, campanhas na mídia, aumento de impostos sobre o tabaco e endurecimento das leis de fumo.
Publicado originalmente no site The New York Times e retirado do Opinião e Notícia.



Postado por: Leonardo Araújo

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