sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Maus tratos na infância podem culminar em alterações do cérebro na adolescência

por Ricardo Teixeira*
Uma pesquisa publicada na edição de dezembro da revista Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine aponta que adolescentes que referem ter sofrido maus tratos na infância apresentam redução do volume da substância cinzenta do cérebro, mesmo sem apresentar qualquer evidência de transtornos psiquiátricos.

Foram estudados 42 adolescentes com idades entre 12 e 17 anos que não apresentavam diagnósticos psiquiátricos. Uma parte dos voluntários foi selecionada de uma amostra de crianças que desde o nascimento já eram consideradas como de alto risco para maus tratos. Adolescentes que não pertenciam a essa amostra de risco também foram incluídos no estudo. Todos eles foram submetidos a um estudo de ressonância magnética do crânio e a um questionário para avaliar a autopercepção de cinco diferentes tipos de maus tratos: abuso físico, abuso emocional, abuso sexual, negligência física, negligência emocional.

Os adolescentes que mais identificaram maus tratos pelo questionário foram os que apresentavam menor volume da substância cinzenta em regiões do cérebro como o sistema límbico-cortico-estriado, além de áreas de integração sensorial e cerebelo. As diferenças anatômicas nas meninas foram mais marcantes em áreas associadas à regulação das emoções, enquanto nos meninos foram aquelas que regulam a impulsividade. Teoricamente, essas características morfológicas do cérebro podem colaborar para um maior risco de problemas de comportamento no futuro.

Muitas das crianças que sofrem de maus tratos não apresentam um diagnóstico psiquiátrico, mas podem apresentar sintomas que, com detecção e intervenção precoces, podem ter mais chance de alcançar um bom equilíbrio psíquico e menor risco de depressão, abuso de substâncias psicoativas, entre outros transtornos psiquiátricos

Os números de maus tratos na infância são certamente subestimados. No Brasil, apesar de ser legalmente obrigatória a notificação de qualquer suspeita de maus tratos na infância, estima-se que 20 a 30 casos deixam de ser registrados para cada notificação realizada. Políticas dedicadas à identificação de maus tratos e consequente intervenção têm seu valor, mas atingem uma população restrita. Por outro lado, programas que atuam nas principais causas do problema têm um maior impacto social. Aí incluem-se o combate à pobreza e à violência doméstica, cuidado com os problemas psiquiátricos dos pais, entre eles o abuso e dependência de álcool e outras drogas.

* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.

** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.

http://consciencianodiaadia.com/2011/12/05/maus-tratos-na-infancia-podem-culminar-em-alteracoes-do-cerebro-na-adolescencia/

Fonte: http://envolverde.com.br/saude/




Postado por: Leonardo Araújo

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