sábado, 6 de novembro de 2010

Mamografia pode ser feita a cada 2 anos

No artigo em que discuti os prós e os contras da mamografia a partir dos 40 anos de idade, falei o tempo todo em mamografia anual. De fato, tudo indica que nessa faixa etária a mamografia anual seja melhor que a bianual. Mas, no que diz respeito às mulheres com 50 anos de idade ou mais, a frequência ideal é alvo de uma nova discussão. O Inca recomenda mamografia a cada 2 anos, enquanto a Femama divulga que toda mulher deve fazer o exame anualmente.

Um estudo (em inglês) encomendado pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos reuniu uma série de pesquisas feitas até hoje, e chegou à conclusão de que fazer mamografia de 2 em 2 anos traz entre 67% e 99% do benefício de se fazer todo ano. Os riscos da mamografia, por outro lado, são proporcionais ao número de exames realizados, e não são nada desprezíveis.


Para ilustrar os resultados desse estudo, vamos imaginar 2 grupos, cada um com 1000 mulheres americanas de 50 anos de idade. O primeiro grupo vai fazer mamografia todo ano, enquanto o segundo vai fazer o exame a cada 2 anos. Ao fim de 20 anos, as mulheres do primeiro grupo terão ganho em média 48 dias de vida a mais, em comparação à expectativa de vida que teriam se não fizessem mamografia alguma. No segundo grupo, o ganho médio terá sido de 36 dias de vida.

(Aqui entra uma conta que eu fiz. Cada mamografia significa uma consulta médica antes e outra depois, além do exame em si; isso significa que ao longo desses 20 anos as mulheres do primeiro grupo terão gasto parte de 60 dias de suas vidas com o exame, enquanto no segundo grupo as mulheres terão gasto parte de 30 dias com o exame. Isso sem contar com o tempo gasto com a investigação de alterações descobertas pela mamografia.)

Mas nem só de benefícios vive a mamografia. Aquelas 1000 mulheres que fizerem a mamografia todo ano terão no total 1350 resultados falso-positivos ao longo de 20 anos. Em média, cada mulher terá uma ou duas mamografias indicando um câncer que não existe. Ao total, essas mulheres passarão por 95 biópsias desnecessárias. Uma biópsia é um exame em que uma agulha é enfiada na mama para recolher um material para análise laboratorial; às vezes é necessário realizar um corte para enfiar uma agulha mais grossa. No grupo das 1000 mulheres que fizerem mamografia a cada dois anos, espera-se que ocorram 780 mamografias falso-positivas, e 55 biópsias desnecessárias.

Essas estimativas foram feitas com base nas taxas de câncer de mama das norte-americanas, que são aproximadamente o dobro das taxas brasileiras. Se essa pesquisa fosse feita no Brasil, os benefícios seriam ainda menores, enquanto os malefícios permaneceriam os mesmos, dependendo só da quantidade de exames feitos.

Não posso deixar de mencionar uma revisão de literatura (em inglês) publicada em 2009 pela Colaboração Cochrane. Seus autores aplicaram um raciocínio semelhante, e chegaram à conclusão de que a mamografia ajuda a diminuir a mortalidade por câncer de mama, mas que não está claro se a mamografia faz mais bem do que mal. Os autores afirmam, ainda, que por isso todas as mulheres, antes de fazer o exame, deveriam assinar um termo de consentimento como aqueles exigidos em cirurgias arriscadas ou em pesquisas científicas.

Fazendo mamografia a cada 2 anos, a mulher mantém a maior parte do benefício do exame, ao mesmo tempo em que reduz pela metade seus riscos.
Postado por: Leonardo Araújo

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